Getting your Trinity Audio player ready...
|
O Professor William Nordhaus, ganhador do Nobel por seu trabalho sobre as externalidades das mudanças climáticas, no qual ele desenvolveu um modelo que mede o impacto da degradação do meio ambiente no crescimento econômico e, com isso, criou um preço para a poluição advinda do carbono, advoga sobre a importância de se alterar o modelo voluntário de cumprimento de metas dos acordos internacionais. Ele alega que no formato atual dos acordos, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris, muitos países se utilizam do “Free rider pass” ou pegam carona grátis, contribuindo com nada ou muito pouco.
Sabemos, igualmente, que as externalidades advém de fatores sociais e ambientais e que as mudanças climáticas estão intrinsicamente ligadas às estas questões. Por exemplo, as migrações pelo clima que já afetam os países e regiões mais pobres.
Para os que imaginam que a preocupação com a sustentabilidade, da qual as externalidades são um dos pilares, é relativamente nova, Arthur Pigou, um economista inglês, autor do “The Economics of Welfare”, já preconizava em 1920, que os governos deveriam taxar os poluidores em um valor equivalente ao dano causado aos outros.
Com a internalização dos custos sociais e ambientais, tais custos seriam contabilizados nos preços das mercadorias e serviços, ajudando a diminuir as desigualdades e compensando os danos causados ao meio ambiente. Mas, o que houve para que isto não se materializasse?
Desde então, o mundo viveu mudanças extraordinárias, acelerações tecnológicas inimagináveis, a globalização da economia, a alternância entre crescimento, guerras e crises. As empresas buscaram o tripple bottom line, preocupadas com as pessoas, o planeta e o lucro, mas a ênfase foi demasiada para o lucro. Tivemos os escândalos, os desastres ecológicos e as desigualdades mundiais se aprofundaram.
E, como Ernest Hemingway, ao ser perguntado como havia falido: “gradualmente, e depois, de repente”, o mundo está agora mergulhado em uma pandemia que afeta a todos igualmente.
Agora, mais do que nunca, os negócios se veem ainda mais pressionados a se preocupar com as externalidades, o que pensam os stakeholders, o que é, enfim, prioritário perseguir, não na visão pura e simples de quem está no dia a dia, mas de quem é afetado pelo o que a organização produz.
O mundo atingiu um momento crucial onde o crescimento sem limite se opõe aos limites planetários. Neste contexto, surgem as metas “net zero” ou zero carbono. Os limites planetários de hoje são um pouco diferentes da falta de recursos visualizada há 50 anos. Hoje, o problema maior é a consequência advinda dos impactos: emissões, descartes, desmatamento. É bem provável que não haja mais tempo hábil para reverter grande parte dos danos.
Atingir metas zero carbono não são possíveis sendo um pouco mais sustentável que antes. O estudo das emissões implicam complexos cálculos das cadeias de produção que ultrapassam os limites dos espaços onde são produzidos os bens ou serviços de uma organização. É preciso ir além, estudar toda a cadeia de fornecimento. Formar alianças e parcerias para transformar processos inteiros, buscando não somente a mitigação como a adaptação dos processos. Isto exige investimento, criatividade, inovação e novas formas de pensar.
Então, como saber diferenciar as organizações realmente comprometidas com a meta zero carbono das empresas que declaram planos que se mostram vazios de conteúdo, o tal “greenwashing”? É preciso muita educação.
A educação para o ESG é necessária e urgente. O ideal é que as disciplinas relativas ao tema fossem inseridas em cada uma das graduações. Entretanto, para isso seria necessário mudar o currículo, transformar as instituições, preparar os professores. Estas ações precisam correr em paralelo ao preparo dos profissionais que já estão em campo. Há muitos profissionais preparados e atuando na área há muito tempo, mas o que mudou hoje para o enfrentamento das questões sociais e ambientais é a necessidade de uma nova governança.
Uma governança de fato, que integre às estratégias do negócio as metas ESG e que estas sejam o próprio propósito da organização, sua razão de existir e que esta cultura esteja impregnada em todos e todas.
Muitos círculos virtuosos advém desta forma de gestão. A liderança para a sustentabilidade demanda conhecimento, educação, visão e propósito. Formar agentes de mudança requer conhecimento em profundidade. Cada negócio tem as suas particularidades, seus stakeholders a quem prestar contas, as externalidades que precisam ser contabilizadas, a meta carbono zero que signifique algo de concreto para as pessoas que fazem parte e respiram o negócio no dia a dia.