Já abordamos este tema anteriormente neste espaço. Entretanto, e, infelizmente, ainda precisamos enfatizar a importância e relevância da transparência das informações.
E o que diferencia uma informação transparente daquela revestida de uma linguagem camuflante em relação à realidade dos fatos?
Muitas vezes é difícil dizer, analisar ou chegar à conclusão sem antes fazer uma profunda investigação. Em outras vezes, vêm à tona um escândalo ou um “whistleblower”, termo em inglês para pessoas que resolvem colocar a “boca no trambone” e denunciar a realidade dos fatos.
Um destes casos emblemáticos foi o recente caso dos ditos fundos ESG do renomado banco alemão:
Greenwashing e falha na Governança Corporativa do Deutsche Bank/DWS com a whistleblower Desiree Fixler:
https://youtu.be/86SQARcQoWM?si=QqjZSpeAHX6kmaFw
“Nada menos do que o maior caso de greenwashing de todos os tempos é o assunto deste episódio internacional de Negócios Planetários. A denunciante Desiree Fixler nos conta a história ultrajante do escândalo de € 460 bilhões que ela trouxe à tona: como o DWS/Deutsche Bank, um dos maiores gestores de ativos do mundo, alegou investir o dinheiro de seus clientes de maneira verde e compatível com ESG, quando na verdade não o fez. Como as alegações de Desiree desencadearam investigações da polícia e das autoridades bancárias dos EUA e da Alemanha e fizeram o CEO renunciar. E por que este é um caso de falha de governança corporativa com o qual todas as empresas podem aprender para se tornarem líderes em ESG. Ouça esta entrevista reveladora que é mais valiosa do que uma aula na Harvard Business School e mais louca do que qualquer coisa na Netflix. A apresentadora da série de podcasts Planetary Business é Stefanie Hauer, eco-investidora e líder de sustentabilidade corporativa. “(em tradução livre)
Assim como o mercado financeiro vem passando por um aumento da regulação e pressão por parte dos investidores, as empresas, muitas vezes representando a destinação dos investimentos, cujo veículo é o próprio mercado financeiro, tem, em contrapartida, sido pressionadas a ser cada vez mais transparentes. E isso não é de hoje. Mais uma vez vou lamentar apenas para lembrar que não estamos falando de algo novo.
Nesse sentido, cabe evidenciar o quanto quem deveria estar mais cético continua otimista, como os ícones globais Jhon Elkington, cujo último livro “Tickling Sharks” é um excelente guia dos tipos de liderança que comandam as maiores corporações e como ele vem convencendo-os, ao longo do tempo, a realmente embarcar na mudança.
“De fato, quando as pessoas perguntam como eu continuei ao longo dos anos, uma parte da resposta deve ser aquela sensação maravilhosa de nadar ao lado de outras pessoas inteligentes e motivadas na mesma direção.” (de “Tickling Sharks: How We Sold Business on Sustainability (edição em inglês)” por John Elkington)
O Prof. Wayne Visser é outro visionário incansável em seu otimismo para continuar a “formar” novos líderes da sustentabilidade. Ao falar sobre o livro Thriving e a relação com a liderança:
“Portanto, sabemos o que significa prosperar, mas o que podemos fazer para criar um ambiente propício? Sistemas vivos complexos são projetados para prosperar, mas colocamos barreiras no caminho e, portanto, há algumas coisas nas quais realmente temos que nos concentrar. Um que é crítico é a governança. Temos que ter a governança certa, ela precisa ser transparente. Precisamos de regras claras. Precisamos de sistemas jurídicos que funcionem. Obviamente, a corrupção vai contra a prosperidade.”
Se eles não desistem, é um importante sinal que temos que resistir e continuar. Afinal, temos um planeta para deixar para as próximas gerações.
E como fazer para regenerar o que foi perdido? Não-somente de recursos naturais, mas também de princípios éticos, integridade, valores e cultura para a transparência?
Nestas horas cabe sempre recorrer aos ombros dos gigantes.
O livro “Fundamentos do ESG”, de autoria de Fabio Galindo, Marcelo Zenkner e Yoon Jung Kim joga luz em diversos aspectos da governança, fundamentais para uma cultura da transparência.
Um deles é a aferição responsável para evitar os riscos de greenwashing.
Ao ler o livro dos autores muitas lições úteis serão apreendidas e aprendidas. Em uma nota de rodapé capturei algo bastante interessante e que cabe a diversas companhias que possuem um “Código de Ética”. Na verdade, o que se tem é uma conduta ética. Trabalhamos com princípios éticos.
Os autores ainda discorrem, brilhantemente, sobre diversos equívocos linguísticos que as companhias incorrem. Por exemplo, falar de um programa de integridade em vez de um sistema de integridade, estes, sim, que denotam uma coordenação entre as diversas partes.
Entretanto, mesmo com um sistema de integridade cuidadosamente implementado e disseminado porque continuamos a ter desvios de conduta, atos ilícitos e o chamado greenwashing?
Como criar uma cultura de integridade? Os autores nos dão diversas pistas. O propósito é o início de tudo. O propósito é o que dá significado a todos os stakeholders para que confiem na organização e sintam-se motivados a trabalhar em torno dos objetivos em comum.
Estruturar a governança para que ela dê suporte ao processo decisório é fundamental para o funcionamento das demais peças fundamentais, como o compliance, o sistema de integridade, as políticas e os processos.
Uma das grandes dificuldades das organizações é rastrear a cadeia de valor. Como garantir que não há trabalho escravo, trabalho infantil, desmatamento e outras violações nos fornecedores que apenas preenchem questionários autodeclaratórios. De quais mecanismos de rastreabilidade as empresas podem lançar mão?
A tecnologia é uma grande aliada na prevenção e na rastreabilidade da cadeia. Há que se lançar mão da ciência de dados para fazer análises e cruzamentos complexos, mesmo com o uso de drones e outros equipamentos. Eleger os fornecedores mais importantes e efetuar uma auditoria local é sempre muito valioso também, mas de alto custo e muito tempo envolvido.
Entretanto, as organizações precisam se adequar às novas exigências dos países importadores, dos reguladores, da pressão dos investidores, bom como necessitam mitigar os riscos a que estão diariamente sujeitas.
Este artigo foi escrito motivado pelo assunto “Os riscos do greenwashing no ESG”, tema do debate com os autores Yoon Jung Kim e Marcelo Zenkner, no âmbito do Clube do Livro da Bridge3 Governança & Sustentabilidade #Books2Be, que irá acontecer no dia 23.10 das 18 às 19h.