Getting your Trinity Audio player ready...
|
Recentemente, passando alguns dias em uma das praias mais belas e cobiçadas do Brasil, isolada em meio a uma natureza exuberante, observei uma família enquanto passava caminhando. Os pais eram jovens e os 2 filhos, pré-adolescentes. Todos os 4 estavam cada qual imersos em sua telinha de celular. Em nenhum momento seus olhares saíram da tela viciante, nem mesmo para sentir soprar a brisa do mar, a poucos metros das instalações que eles estavam.
Um bom tempo depois passei de novo e como estátuas ou robôs eles continuavam colados às suas respectivas telas. Curiosa que sou, ao passar por eles novamente, consegui ver a mãe escolhendo um emoji para enviar em uma mensagem. Qual seria a urgência de tal comunicação?
Passamos um ano inteiro planejando alguns dias em família. Com qual objetivo senão ter uma interação diferente daquela do dia a dia? Quantos conflitos emergem de tal intensidade na realidade do olho no olho? Inúmeros, mas extremamente necessários. Saíamos da experiência mais conectados, mais maduros, conhecendo melhor as pessoas que mais amamos na vida e, ao mesmo tempo, aprendemos a entender melhor a nós mesmos.
A cena daquela família desconhecida me preocupou, como mãe, educadora e cidadã do mundo.
Somos vitrine também e passo pelos mesmos desafios. Tenho filhas adolescentes e o embate às vezes é muito duro, mas não podemos desistir.
Acredito muito em educar, guiar e liderar pelo exemplo. Portanto, procuro incluir a leitura em um livro físico ou no kindle no lugar da navegação sem fim da tela guiada por algoritmos programados por palavras-chave sem imaginação.
Na Bridge3 Governança & Sustentabilidade temos o clube do livro, o #Books2Be que promve encontros periódicos e abertos com autores que falam sobre sustentabilidade em suas obras. Tem sido uma experiência riquíssima.
Sem querer ser saudosista, mas apenas para trazer um paralelo à situação atual pensei nas amigas de infância e nas avós que moravam distantes. Era uma época na qual aguardávamos ansiosamente uma carta ou escrevíamos uma. O telefonema discado era algo imprescindível, mas menos frequente ainda. Era desta forma que sabíamos das novidades.
Entretanto, ao contrário das redes sociais, ninguém falava ou desenhava ou mandava fotos sobre o quê havia comido, vestido, mas, principalmente falávamos de acontecimentos marcantes, conversávamos sobre dilemas, dificuldades, ou ríamos sem fim sobre algo engraçado que havia acontecido ou que era falado. Às vezes chorávamos de situações vividas, sentimentos, mudanças de rumo na vida. A sensação é de que havia mais profundidade nas conexões, encontros e desencontros reais.
Existia o tal “cancelamento”? Existia com outro nome: rompimento talvez, mas para isso era preciso ao menos um telefonema, um encontro, uma carta. Havia de se pensar nos argumentos, em não ferir os sentimentos do outro. Nada tão rápido e inconsequente.
Este paralelo não é uma apologia ao passado. De forma alguma. Sou completamente a favor da tecnologia. Atualmente estudo a IA e sua aplicabilidade empresarial e a conexão com a sustentabilidade. Sempre pensando nas consequências do mal uso, como qualquer outra ferramenta.
Você já fez a sua lista de desejos para 2025? Na minha com certeza estará no topo ficar menos conectada na telinha. a não ser pelo trabalho e para me comunicar, o que já consome grande parte do meu dia.
E, para encerrar este post com o “walk the talk” indico duas leituras que estou me dedicando no momento. Ambas são tão sensacionais que fico alternando entre uma e outra:
O livro “On the Move”, de Abrahm Lustgarten analisa as migrações desde os primórdios até os tempos atuais com exemplos reais, de pessoas reais que estão vivendo na pele os problemas dos extremos climáticos:
Ganhei este outro livro no Natal da minha enteada. Ela acertou em cheio. “All we can save” de Ayana Elizabeth Jonhson e Katharine K. Wilkinson (do project Drawdown) traz diversas histórias de mulheres envolvidas na questão climática. Com elas aprendi que a primeira cientista do clima e, como era de se esperar, não-reconhecida, publicou à época em um artigo, um experimento mostrando que o dióxido de carbono poderia causar o aquecimento global e que se um dia os níveis aumentassem teríamos uma crise climática. Ela foi plagiada 3 anos depois por um irlandês que foi quem ficou com o crédito de ter descoberto a toxicidade do CO2. O livro é riquíssimo de conteúdo.
Que em 2025 a leitura traga insights, criatividade, conexões reais e boas conversas!!!
Feliz 2025!